quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Arte de Meditar (Matthieu Ricard) - Sinopse


O objetivo da meditação é transformar-se interiormente, treinando a mente; a modificação de nossa percepção das coisas transforma a qualidade de nossa vida. 
Também podemos definir meditação como o treinamento para desenvolver qualidades fundamentais, como o amor altruísta; não é um exercício egoísta; nossa motivação para a transformação interior é ter capacidade de ajudar a transformar o mundo. Meditação em sânscrito é BHAVANA (cultivar); em tibetano GOM (familiarizar-se).
Estudos científicos realizados em Princeton e Harvard demonstram que a meditação influencia na neuroplasticidade cerebral, produzindo reorganizações estruturais e funcionais no cérebro. Períodos de 8 semanas de meditação (30 minutos diários) reforçam o sistema imunológico, diminuem a pressão arterial, melhoram a atenção e são eficazes em tratamentos de depressão e ansiedade.
O foco da meditação é permitir a percepção diferenciada; uma vida repleta não é feita de uma sucessão de sensações agradáveis, mas de uma transformação na maneira pela qual nós compreendemos e atravessamos os acasos da existência. O treinamento da mente permite não somente combater as toxinas mentais, como o ódio e a obsessão que envenenam literalmente nossa existência, mas também adquirir melhor conhecimento sobre como a mente funciona e uma percepção mais justa da realidade.
A mente não é uma entidade, mas uma onda dinâmica de experiências, uma sucessão de instantes da consciência. O propósito da meditação é observar os sutis mecanismos do funcionamento de nossa mente e agir sobre eles. Para isso é necessário desenvolver o poder de introspecção, tornar a atenção estável e clara. É o “controle que liberta”: ser livre é ser dono de si mesmo

Como meditar
Há três passos básicos: atitude analítica, contemplação e transformação interior; e quatro requisitos básicos:
  • Motivação: o firme desejo de despertar (“Que o precioso Pensamento do Despertar nasça em mim, se não o concebi. Quando tiver nascido, que jamais decline, mas cresça sempre.” – Votos de Bodhisattva)
  • Lugar propício
  • Postura apropriada: Lótus (postura do diamante, ou Vajrasana) ou Meio Lótus (postura feliz, ou Sukhasana)
  • Regularidade

O autor propõe quatro temas de reflexão para reforçar nossa determinação em meditar:
  1. O valor da vida humana.
  2. Sua fragilidade e a natureza transitória de todas as coisas.
  3. A distinção entre os atos benéficos e os nocivos.
  4. A insatisfação inerente a um grande número de situações de nossa existência.

            Seqüência de treinamento da percepção:
  1. O mundo que nos cerca
  2. Nossas sensações
  3. O encadeamento de nossos pensamentos
  4. A consciência onipresente obscurecida por nossas cogitações

Meditação para desenvolver a Consciência Plena: observemos o que se apresenta à nossa consciência, sem lhe impor o que quer que seja, sem nos deixar atrair ou repelir. Contemplemos o que está presente diante de nós, uma flor, por exemplo, escutemos atentamente os barulhos próximos ou distantes, aspiremos os perfumes e os odores, sintamos a textura daquilo que tocamos, gravemos nossas diversas sensações, percebendo claramente o que as distingue. Estejamos inteiramente presentes ao que fazemos, seja quando estivermos caminhando, assentados, escrevendo, lavando a louça ou tomando uma xícara de chá. Não há mais tarefas agradáveis ou desagradáveis, pois a consciência plena não depende do que estamos fazendo, mas da maneira como fazemos, a saber com uma presença de espírito clara e tranqüila, atenta e maravilhada com a qualidade do momento presente, evitando acrescentar à realidade nossas construções mentais.

O Caminhar Atento: “Caminhar pelos simples prazer de caminhar, segura e livremente, sem se apressar. Estamos presentes a cada passo que damos. Se quisermos falar, paramos de caminhar e damos toda nossa atenção à pessoa que está diante de nós, ao fato de falar e escutar... Paremos, olhemos à nossa volta e vejamos como a vida é bela: as árvores, as nuvens brancas e a infinidade do céu. Escute os pássaros, sinta a leveza da brisa. Caminhemos como seres livres e sintamos nossos passos se tornarem leves à medida que caminhamos. Apreciemos cada passo que dermos”. (Thich Nhat Hanh)

Há dois tipos de meditação:
  • Calma mental (Shamatha): concentração no objeto; ex.: respiração
  • Visão penetrante (Vipashyna): análise contemplativa.

            Shamatha tem três etapas:
  • Manaskara (atenção no objeto)
  • Smiriti (manter a atenção no objeto)
  • Samprajanna (tornar-se consciente das características do objeto)

            Há ainda a “Concentração Sem Objeto”, um estado de perfeita simplicidade, sem nenhuma construção mental. Volte-se para o interior e simplesmente “conheça”:
            No inicio, nada vem.
            No meio, nada resta.
            No fim, nada parte.      (Milarepa)

            Para o budismo todas as coisas são interdependentes; tudo é relação, nada existe em si e por si. É a chamada “vacuidade da existência própria”. Há uma meditação para a compreensão do conceito de que as coisas, a despeito de sua aparência tangível, são desprovidas de existência última: imaginar a totalidade da rosa e ir gradativamente penetrando em sua estrutura, vendo apenas uma pétala, etc, recuando até chegar a ser um átomo da rosa; onde está a rosa ?
            O autor sugere ainda finalizar os exercícios com uma “dedicação de frutos”, um voto que canalize energias: “que a energia positiva nascida dessa meditação contribua para aliviar o sofrimento dos seres”.

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