domingo, 31 de outubro de 2010

Em busca de si mesmo

            Existe muito falatório sobre a razão de ser da Vida, seu real significado e seu propósito; alguns livros são muito inspiradores e a mensagem de alguns mestres tem muita beleza; mas a única coisa que interessa aqui é que um dia a pessoa se dê conta de que deve encontrar estas coisas dentro de si mesma. Qualquer pequena compreensão que a gente extraia lá de dentro sobre a Vida é mais preciosa que todos os livros que já foram escritos sobre isso, pela simples razão de que são estas chispinhas de consciência que vão alimentar as grandes transformações que precisamos operar em nós. E acredite, querido amigo, não existe um verdadeiro caminho de descobrimento interior sem profundas transformações.

            O início de uma jornada interior está normalmente associado com inquietudes e sofrimentos; aquela incômoda necessidade de encontrar respostas é uma grande força que temos a nosso favor; sempre que ficamos satisfeitos com alguma teoria paramos de buscar, nossas certezas são muitas vezes paralisantes. E as dores, ainda que não gostemos de admitir, são importantes também; é muito comum que comecemos a buscar de verdade porque nossas contradições internas nos fazem sofrer enormemente. Há a história clássica de São Francisco, então um jovem opulento em Assis, que teve suas inquietudes espirituais despertadas por uma estranha doença que o cegava durante o dia; ou de Santo Agostinho, que em suas crises existenciais quase se sentia sufocar pelo enorme vazio que carregava dentro de si.
            É uma dinâmica: toda crise produz uma busca por soluções; e depois de perdermos algum tempo de nossas vidas culpando a tudo e a todos, desde nossos pais, nossos chefes, o governo, as ex-namoradas, etc, etc, etc, percebemos então que temos muito mais responsabilidade pelo que ocorre em nossas vidas do que imaginávamos. Então voltamos nossa atenção para do que de fato interessa: as faces ocultas do si mesmo.

            Existe muita teoria sobre o Eu, a psique, o que existe lá dentro, a alma, etc, etc, etc; há um esquema fácil para entender algumas coisas; isso é básico, essa história é muito mais complexa: toda criança vem ao mundo com um precioso aparelho psicológico cheio de riquezas em potencial, isso é fácil de perceber; a pureza espontânea e a magnífica capacidade de aprendizado que toda criança possui são testemunho vivo disso; mas o desenvolvimento deste aparelho é um processo muito complexo, talvez muito mais que o desenvolvimento de nosso corpo físico: neste processo de assimilar os valores que a rodeiam e desenvolver-se, a incipiente psique da criança vai se desenvolvendo na medida de suas possibilidades, construindo soluções para seus problemas imediatos; neste processo a psique fica sujeita a condicionamentos externos e internos; os externos são muitas vezes criados por pais muitas vezes bem-intencionados: reprimir o choro da criança pode criar barreiras para a livre manifestação de sentimentos, por exemplo; é muito comum um processo em que a criança vai fabricando uma máscara com valores aprovados pelos pais; muitas delas vestem esta máscara a vida toda. Um corpo mais magro que o de outras crianças, ou qualquer sinal físico diferente, pode ser o ponto de partida de um complexo de inferioridade.
            A energia consumida por estas construções psíquicas podem muitas vezes impedir o desenvolvimento de capacidades naturais da própria psique; uma excessiva timidez pode ser uma barreira intransponível para um potencial criativo. Estas situações ficam piscando no universo psicológico, pedindo uma solução; são os conflitos internos. Os remédios de nossa sociedade para estas coisas são muito ruins: baseiam-se essencialmente em repressão, em fortalecer travas psicológicas; tornamos-nos construtores de muros, as diferentes partes de nossa psique ficam ilhadas, isoladas.
            É claro que a psique tem suas defesas e muita coisa se desenvolve e germina; muita coisa negativa é naturalmente transformada; todos nós experimentamos alguns momentos especiais em que nos colocamos em contato com aquilo de temos de mais maravilhoso dentro de nós, nossa luz interior.
            E aqui estamos nós chegados à idade adulta; é muito comum que as pessoas se acostumem com estes condicionamentos que foram se formando; não conseguem imaginar a vida sem eles, rotulam de sonhadores os que falam em se livrar dos grilhões interiores; no entanto, querido leitor, lá no fundo há uma voz da consciência gritando por providências: existem valores aguardando para serem desenvolvidos, poderes e capacidades para serem utilizados; nossa consciência está pronta para nos orientar num trabalho assim. Cada um precisa fazer uma escolha neste momento: ou fortalece seus condicionamentos ou se esforça ao máximo para ouvir a voz da consciência.

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